quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Impossível não lembrar.

Vou contar uma historinha:

A Mãe Ana entrou nas nossas vidas em 1941, quando ela tinha apenas 17 anos e eu não era nem perto de ser nascida. Ela viu a minha avó nascer e crescer junto com todos os seus irmãos. Acompanhou a mudança pra Inglaterra (vovó com 5 aninhos), o primeiro namorado, o segundo, o terceiro, o casamento com o vovô, o falecimento do bivô, o nascimento dos 4 filhos (tio V., tia M., tio C. e, por último, o papai), e o crescimento de todos eles. Ela viu nascer e crescer a primeira neta da minha avó (que por acaso, sou eu hehe), e todos os outros netos.
Eu sei que todos nós da família temos uma relação especial com ela, cada um com uma história diferente pra contar. Eu não sei da deles, mas da minha, eu posso falar.

Eu sempre fui muito agarrada com os meus avós. Morei com eles até os meus 2 anos (que foi quando os meus pais se separaram), e depois, até os meus 13, 14 anos, eu passava todos os finais de semana lá na casa da vovó. De sexta à segunda. E posso dizer, sem sombra de dúvidas, que esse foi um dos acontecimentos mais marcantes da minha vida, pois ajudaram - e muito - a firmar quem eu sou hoje.
A Mãe Ana mora na casa da vovó desde que eu me entendo por gente. Conseqüentemente, ela fez parte de tudo isso.
Eu lembro de quando eu era pequena, a vovó costumava sair pra dançar com o vovô todos os sábados; eu morria de medo de dormir sozinha, e a mãe ana sempre ficava lá, sentada naquela cadeira vermelha atééé eu dormir. Mais ainda, até o vovô e a vovó chegarem, que era pra eu não acordar e me deparar sem ninguém.

Lembro também, que ela gostava de arrumar todas as minhas bonecas (sim, eu tinha um quarto cheio de brinquedos na casa da vovó. acho que mais até do que na minha própria casa) antes do final de semana chegar. E quando eu chegava pra brincar, estavam todas devidamente vestidas, penteadas e até com sapatinhos!

Ela também adoraaava bater um papo comigo. Sentava na mesma cadeira vermelha enquanto me observava brincar e se desatava a falar sobre o passado, sobre o antigo cachorro da família, que era acostumado com o frio e quando veio pro Brasil, morreu de calor, sobre o namorado ruivo que ela teve e quase se casou, sobre o quanto os meus bisavós eram bons e o quanto a vovó era linda e danada quando era pequena.
Eu ouvia tudo com atenção, embora não falasse tanto.

A Mãe Ana sabia que eu adorava pão de leite com geléia de manhã, e sabia que a minha favorita era a de jambo, a qual ela mesma fazia e não deixava nunca faltar.
Sempre que eu acordava, meu café já tava pronto. E ela sempre estava ali, com aquele sorriso lindo no rosto e falando "excuse moi" pra pedir licença e "thanks" pra agradecer alguma coisa. Imagina, eu é que tinha que agradecer.

Ela sempre teve os jeitos mais lindos de me chamar. E sempre fica sem graça quando eu vou abraçar ela (hehehe), mas responde quando eu mando beijinho!
Mãe Ana sempre fez questão de cuidar de todo mundo e faz até hoje, quando ela é que precisa ser cuidada.

Ela nunca saiu da casa da vovó.
Não por falta de oportunidade (o ruivo inglês realmente quis casar com ela e levá-la pra Inglaterra), nem por falta de incentivo.
Mas por amor, mesmo.
Por amor à nossa família que, de fato, também é a dela. E acima de tudo, por amor à minha avó. "Como eu poderia viver sem a minha Mzinha.?"

Hoje ela faz 84 anos. Tá de cabelo branco, meio esquecida, pergunta mil vezes a mesma coisa e se confunde toda ao contar as histórias.
Mas ela continua ali. E é impressionante, mas ela sempre lembra de fazer os meus sucos de goiaba e de cupuaço aos sábados, quando eu almoço na casa da vovó, porque ela sabe que eu não bebo refrigerante.

Um comentário:

mentos. disse...

Ooooooo!!! Que lindo!
Eu acho ela mmmto fofa cara, nem sei se já te falei isso alguma vez ou não... mas acho!
Muito feliz aniversário pra ela!
=]

E eu adorei teu comentário, viu? ^^